quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Receita de Matar Saudade

Quando o castanho escuro dos teus olhos
Visitar o verde mar de Iracema
E o salgado do teu choro for embora,
Lembra da ponte que ainda se sustenta
E deixa a maresia lavar a saudade.

Se, a esta altura, teu peito ainda apertar,
Canta aquele nosso maracatu arrastado,
Fecha os olhos e sente a luz desta terra.
Deixa a praia falar amor e sente o pavão
Voar, mysteriozo, sobre as nossas cabeças.



Gabriel Queiroz

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Terno

Entre uma linha e outra do relatório,
Seu sorriso me sorri.
Entre um parágrafo e outro,
Seu olhar me olha quebrando esse gelo.

O gelo do escritório,
O gelo lá de fora,
O gelo aqui de dentro.


Gabriel Queiroz

domingo, 25 de agosto de 2013

De Mãos Dadas

Vou passando de novo pelas mesmas ruas.
Vou vivendo de novo aquelas horas cruas.
Vão caindo de novo as flores amarelas nas ruas.
As minhas mãos se juntam novamente às tuas.

A rotina me conforta: a tua, a minha, as duas.


Gabriel Queiroz


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Eu tento, tempo

Anda!
Anda, que o tempo tem pressa.
O futuro é daqui a pouco.
Anda, que o tempo corre.
Corre sem olhar pra trás.

Corre!
Corre, que o tempo anda
Depressa.
O futuro é agora, se apressa!

E o futuro cada vez anda mais rápido,
Com menos tempo pra pensar,
Menos tempo pra ser futuro.

Quando dei fé,
Tudo era passado.


Gabriel Queiroz

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Prisioneiro

Cara, ela não deixava eu olhar pra ninguém!
Pra nenhuma outra garota, nem pro lado.
Eu não podia conversar com meus amigos,
Eu não podia ir pegar carne nem bebida.
Nem olhar pro céu eu podia!

É sério, cara.
A beleza dela é opressora.
Acorrenta, aprisiona, paralisa!
Eu só podia olhar pra ela.
Aliás, eu só conseguia olhar pra ela.



Gabriel Queiroz

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Primeira

Você pode ter outros cachorros de pelúcia.
Outros filmes preferidos
E ler outras cartas de amor.

Você pode ter outros livros almejados,
Pode gostar de outros perfumes
E nem lembrar da caneta que você me deu.

Você pode até arranjar novos hobbies,
Escrever novos versos
E descobrir uma nova banda preferida -
Embora eu ache improvável.

Podem haver outras corridas risonhas,
Outras quedas marcantes
E outros primeiros beijos,
Por que não?

Mas você não vai esquecer.
Vai olhar uma estrela sozinha no lá céu,
Naquela hora logo depois que o Sol se põe.
Ela vai estar brilhando isolada e imensa.
E você vai se lembrar.
Por ter sido a primeira.
Por ter sido, talvez, a única.
Pelo menos até esse momento.



Gabriel Queiroz

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Óculos-de-sol

Os tinha quase como uma máscara.
Para olhar os outros despercebidamente,
Sem o cruzar dos olhos.
Sem o fitar das almas.
Os tinha também para admirar as mulheres,
Zombar dos velhos e dos feios e dos outros.
Para julgar e não ser julgado.

E tinha o orgulho
Como os óculos-de-sol do seu íntimo.

Gabriel Queiroz

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Os versos que roubou de mim

Você se mudou, rasgou nossas fotos,
Levou a pintura pra casa do chato,
Ficou com o sofá, quebrou os meus copos,
E ainda por cima, levou nosso gato.

Jurou e cumpriu o que prometeu,
Até nas memórias você deu um fim.
Levou dessa casa tudo que é seu,
Mas devolva os versos que roubou de mim.
Sua desgraçada (:


Gabriel Queiroz

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Lua Cheia

Ei, menina, olha esse mar.
Esse mar se retirando daqui pra Lua subir.
E a Lua desenhando sua sombra na areia
Como se quisesse mais uma de você.
Ei, menina.
Quando a Lua sorrir pra você,
Sorria de volta.


Gabriel Queiroz