Acharam pouco
o cinza dos prédios e do asfalto e expandiram. É o neoimperialismo
monocromático, tem jeito não. A escala de cinza agora domina também a moda
automobilística.
Quando foi que
isso aconteceu? Alguém viu? Sei que, quando dei fé, estava assim. Carros cinzas
por toda parte. Cinzas, brancos e pretos. Tenho pena das cores que insinuam
sair da mesmice, mas, como que por medo de serem julgadas, desistem. Acabam
virando pinturas homeopáticas, uma leve sugestão de qualquer tom. A resistência
que ainda há é vermelha. Um ou outro automóvel ainda roda por aí, como se
ferido pela monotonia dos outros. Ah, e os Escorts azul-marinho, claro.
Um dia desses,
meu amigo Pereira comprou um carro:
— Bacana,
Pereira! Qual é a cor?
— Champanhe.
Pelo amor de
Deus, Pereira! Champanhe? Logo você, outrora orgulhoso proprietário de um
Corcel verde? E verde firme, poderoso! Cadê a vontade de viver, Pereira?
Lembre-se das fotos antigas, todas aquelas cores nos Fuscas e Belinas cortando
a Avenida Paulista! A gente ouvia Led Zeppelin... Pink Floyd, Pereira!
Passei três
semanas sem chamar o Pereira pro bar. Naquele dia, fui dormir me perguntando o
que tinha feito aquilo com ele. Vai saber. Vai ver foi a indústria automobilística
mesmo. Ou o tédio, a rotina, a velhice. Acho que a gente acaba ficando assim,
alguma hora. Quando percebe, está trocando a cachaça pelo vinho, o torresmo
pelo filé trinchado e o verde pelo champanhe.
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