sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Monotonia

Acharam pouco o cinza dos prédios e do asfalto e expandiram. É o neoimperialismo monocromático, tem jeito não. A escala de cinza agora domina também a moda automobilística.

Quando foi que isso aconteceu? Alguém viu? Sei que, quando dei fé, estava assim. Carros cinzas por toda parte. Cinzas, brancos e pretos. Tenho pena das cores que insinuam sair da mesmice, mas, como que por medo de serem julgadas, desistem. Acabam virando pinturas homeopáticas, uma leve sugestão de qualquer tom. A resistência que ainda há é vermelha. Um ou outro automóvel ainda roda por aí, como se ferido pela monotonia dos outros. Ah, e os Escorts azul-marinho, claro.

Um dia desses, meu amigo Pereira comprou um carro:

— Bacana, Pereira! Qual é a cor?

— Champanhe.

Pelo amor de Deus, Pereira! Champanhe? Logo você, outrora orgulhoso proprietário de um Corcel verde? E verde firme, poderoso! Cadê a vontade de viver, Pereira? Lembre-se das fotos antigas, todas aquelas cores nos Fuscas e Belinas cortando a Avenida Paulista! A gente ouvia Led Zeppelin... Pink Floyd, Pereira!

Passei três semanas sem chamar o Pereira pro bar. Naquele dia, fui dormir me perguntando o que tinha feito aquilo com ele. Vai saber. Vai ver foi a indústria automobilística mesmo. Ou o tédio, a rotina, a velhice. Acho que a gente acaba ficando assim, alguma hora. Quando percebe, está trocando a cachaça pelo vinho, o torresmo pelo filé trinchado e o verde pelo champanhe.


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