sábado, 25 de maio de 2013

Dormente


Na cama desarrumada, dorme opaca.
Dorme serena, descrente, buarquiana.
Não sorri e não sonha.
Dorme e se esquece das desilusões e desnorteios
Que passaram por sua cabeça e seu coração.
Principalmente pelo coração.

Dorme na cama larga, não de casal.
Dorme, quem sabe, nem feliz,
Nem triste, nem saudosa.
Nunca suportara tal coisa como a saudade.
Não suportava mais
Qualquer lembrança de amor.
Nem em sonho!


Gabriel Queiroz


quinta-feira, 16 de maio de 2013

Impressões

A impressão de que conheço aquela pessoa.
A impressão de que vou ficar doente.
De que algo não vai dar certo,
De que tudo vai melhorar
Um dia.

A impressão de que já ouvi esta música,
Eu sei que sim.
De que já vi este filme.
De que estou aqui, agora.
A impressão de que estou te vendo.

A impressão deste abraço, deste beijo.
Este amor, nossas mãos, estas rugas...
Tudo impressões.
A impressão daquelas fotografias antigas.

A impressão de que nossas vidas
São bem mais que papéis impressos,
Autenticados em cartório.


Gabriel Queiroz

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Estranho Fenômeno das Flores


Aquele nosso jardim – lembra-se dele?
Está todo cinza.
As flores não estão mortas nem doentes,
Estão bem saudáveis, até.
Mas cinzas.

Acho que algo em você dava-lhes cores.
Não sei, talvez só você mesmo.

Eu gostava muito dele antes, sabe?
Talvez eu construa uma piscina no lugar, agora.

Se pelo menos as cores voltassem...

Gabriel Queiroz

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Passageira


Só de me lembrar dos teus olhos azuis,
De como eles pareciam observar
Cada pedaço da minha memória,
As pupilas dos meus se dilatam,
Como se permitissem (quisessem)
Que você visse mais
De mim.

Você foi um calafrio sem explicação
Que eriça os pelos
E vai embora,
Deixando a sensação sumir aos poucos,
E vem sempre que teus olhos enigmáticos
Aparecem nos meus devaneios.
Mas você não.

Embora eu queira lhe ver de novo,
Acho que isso é exatamente o que você quer ser:
Sem sentido nem explicações,
Intensa, misteriosa e passageira,
Um arrepio.


Gabriel Queiroz

domingo, 5 de maio de 2013

Soneto da Inquietude


Ah, companheiro, que acordado sonha
Na noite escura, de onde a rede range,
Nunca haverá de curar esta insônia
Que a todos os apaixonados tange.

Que o amor, em seu lugar, se ponha,
Tenha fineza e alguma decência.
E que o sono venha sem vergonha
Dar um fim nesta triste clemência.

Calma, pobre rapaz que se inquieta
Na cama, por inteiro se acoberta,
Intrigado com o que os outros pensam.

Esqueça a peleja pra que descubra
Se este amor, que nem a sua boca rubra,
É maravilha ou maldita bênção.

Gabriel Queiroz

Gota D'água


A sua indiferença aparente me perturba
Como uma torneira de madrugada
Que, nem aberta, nem fechada,
Goteja pequenas doses de saudade
Nessa minha pia entupida
Que nunca transborda.


Gabriel Queiroz