segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Reincidência


Solitário pela rua
O homem fazia seu caminho
Sozinho, porém, não andava
Acompanhavam por entre
As persianas de madeira envelhecida
De cada refúgio

Dizem que volta de longe
Dizem que volta mais velho
Dizem que volta mais forte
Mais encorpado
E mais sabido

Dizem que volta mais sombrio
Com as costas morenas
Como um mosaico marcado em quadros
Pela liberdade, pelas lembranças
De lá fora

Será que o acolherá a vida?
A sociedade, com manta
E leito aquecidos?

As demais cadeiras vazias
De sua mesa do bar
São um mau presságio

O silêncio o tortura mais que as grades
Os olhares mais secos que a ração
Os cumprimentos gelados
Mais que o cimento liso

Não ponderou mais
Agiu
A família haveria de entender
Seu ente não se fora em vão
E o bar arranjaria outro garçom

Aconchego de pedra
Uma hora diária de dia, apenas
Mas meio metro quadrado na parede
Parecia-lhe o suficiente
Conversas jogadas fora
Antes mal acompanhado do que
Só.


Gabriel Queiroz

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Soneto Frio


Perco-me em fundos pensamentos
Vejo você na superfície
Memórias claras, raras sombras
Como se ainda me pedisse

Onde a paixão de mim se esconde
Antes tida nos braços seus?
Ela em flor se faz presente
Ou de lembrar se esqueceu?

A distância? Não me lembre
O vento já sopra contra
Preciso de um favor

Quanto dura o pra sempre?
Você já deve estar pronta
Só não fale mais de amor

Gabriel Queiroz

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Agora?


E eu não sei o que fazer agora
Se você me desse uma dica, uma reação...
Vamos brincar, como nos velhos tempos
Rir da felicidade, nos esconder do mundo

A velha escada no fim do corredor
O corredor, as corridas, o corrimão
Os sorrisos, os abraços, os tropeços, as quedas
Eu não sei como fazer, agora

A saudade no tempo que ainda não passou
Que já lança suas sombras no presente
Aquele mesmo presente que você me deu
E que se recusa a riscar o calendário
Eu não sei se vou fazer, agora

Não quero tomar decisões frias, adultas
Talvez elas se tomem sozinhas, tombem
Enquanto se arrastam, tentando tardar
Tardar aquilo que corre e se aproxima
Até as pilhas querem saltar pra fora do relógio
Eu não sei mais fazer o agora.


Gabriel Queiroz

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sensações Líricas


Por favor, peça pro teu cheiro parar
Parar de me seguir e de te trazer
Tu é que tens que trazê-lo
Borrifado dos lírios da tua pele

A memória da minha memória
O gravou e o usa como perfume
E sai a passear em mim
Atordoando os outros sentidos
Que brigam entre si como crianças

Sim, tua cor ilumina os olhos fechados
Tuas folhas, com o vento, acalmam os ouvidos
Teu gosto, meio amargo na medida certa
Ainda bem que lírios não têm espinhos.


Gabriel Queiroz