segunda-feira, 20 de abril de 2015

As coisas que tu me livra

As coisas que tu me escreve,
As coisas que tu me fala,
As coisas que tu me serve,
As coisas que tu me cala.

As coisas que tu me olha
Que chora, que enxuga e que lê
As coisas que tu me molha
As coisas que tu me vê

as coisas que tu me mostra
conhecem absurdos de mim!
as coisas que tu me prostra
beijam meus lábios à noite

as coisas que tu me bebe
aliviam minha garganta
como meio litro d'água
ao acordar numa ressaca braba

tu me versa coisas que
aos poucos me (des)fazem
e dão paz e significam e fluem e me tornam
verdadeiramente

livre

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Muro

hoje foi uma correria doida
no condomínio fechado
com suas armas de plástico

vai ver só!
me acertaram!
criança ri
dorme cansada
no condomínio fechado
uma correria doida
uma correria doida
na favela pacificada
dorme com medo
criança chora
acertaram ele!
vai ver só!

com suas armas de pânico

na favela pacificada
hoje foi uma correria doida

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Soneto livre de tudo — menos de corpo


as cadeiras na calçada
já com a palha dos assentos gasta
já mal se aguentando nas quatro pernas
descansam de tardezinha

as cadeiras na calçada suspiram
o jumento vai devagar
o cachorro vai devagar
a vida vai já não tão devagar

o danado do Sol
quando chega bem pertinho do horizonte
se apressa ávido pelo cochilo

mas as cadeiras na calçada, com os olhos
[bem compridos para o céu
suspiram, suspiram
ah!, quantos carnavais vividos nessa rua...