segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Número


Duas horas e tudo muda completamente
Uma conversa despretensiosa
E tudo muda completamente
De repente o sentimento se percebe refeito
Não que tivesse sumido
Eles não sabem
É tudo muito confuso

Ao que se parece, eles ainda o sentem
Mesmo depois de todo esse tempo
Talvez sejam hormônios
Serotoninas e dopaminas agindo
Como dizia um amigo
Mas talvez seja saudade
E aquele mesmo pêndulo
Mas não são a mesma coisa?

A agonia, tristeza e insegurança
Principalmente incerteza
E o não saber o que fazer
Complicado demais!
E, de repente, uma felicidade estranha
Boba...
E, outrora, extremamente improvável
Ele está feliz como um menino
Que toma um picolé caseiro depois do futebol

O que uma ligação não faz?
Liga todos os fatos
Liga as boas memórias novamente
Liga os músculos faciais no modo sorrir
Liga o turbo no coração
Liga pra ela, liga pra ela...

Ele sabe que tais ligações não serão cotidianas
Mas, com uma risada besta e infantil,
Ele agradece
Apenas por ter o número dela de volta na sua agenda.

Gabriel Queiroz

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Sono


Síndrome do papel em branco
Síndrome do papel
Horas olhando pro papel
Em branco
O papel é branco
Papel...
Sim, dorme no papel.


Gabriel Queiroz

Espera


A Lua escondeu-se, o mar recuou
A música sumiu, as luzes não piscaram
Os passos cessaram, as buzinas calaram
O tempo sequer existiu

Porém meus olhos me enganaram:
Não eras tu quem vinha em minha direção

Lua e mar apresentaram-se
Música e luzes agitaram-se
Passos e buzinas fizeram-se audíveis

Mas o tempo se recusava a existir
Pois nunca te fizeste presente.


Gabriel Queiroz

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Pêndulo


Um dia nos encontraremos de novo
E nos conheceremos
E nos surpreenderemos

Um dia confidenciaremos de novo
E riremos
E confiaremos

Um dia nos amaremos de novo
E juraremos
E eternizaremos

Um dia, meu bem...
Planejaremos tudo de novo, como agora
Nos despedindo do presente com gosto
E mal podendo esperar
Pela próxima vez.


Gabriel Queiroz

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Ela


Ela quer apagar
Ela quer
Ela não pode

Rabiscos, folhas amassadas
Poemas jogados fora
Mas não apaga
Mas não adianta
Mas...

Talvez ele tenha escrito à tinta
Vale a pena apagar?
O papel rasgará
E a borracha...
Ela vai se desfazendo aos poucos.


Gabriel Queiroz

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Soneca


Cinco horas,
Desligar alarme

Não quero levantar
Não quero sair do seu lado
Não quero perder seu cheiro
Não quero não mexer no seu cabelo
Não quero um só travesseiro

Cinco alarmes,
Desligar as horas.


Gabriel Queiroz

Ilustração: Gabriela Akemi Shima

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Calçada

Passos calmos, de noite
Está frio
Estranhamente, eu gosto da atmosfera
Sentimentos revividos
Melodrama imaginário

As folhas dançam com o vento
E a minha cabeça visita memórias
Embaladas pelo som dos fones de ouvido
E da sua voz, sussurrando
If I was young, I’d flee this town...


Gabriel Queiroz

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O Dia Que Não Aconteceu

E aquela rua mal iluminada
Com as luzes dos postes
Mal passando pelas folhas das árvores
E o vento gelado
Trazendo de volta todas as incertezas
E os nossos amigos mais à frente
Como se fingissem não nos ver

Seu andar saltitante, de repente parou
Deu meia-volta para me resgatar
E, depois de um beijo sutil, nada aconteceu
Só a música e aquele portão vazado

Meses depois, o escuro voltou, a música voltou
Você voltou
Eu tive pela última e primeira vez
E tive que ir
A despeito dos teus abraços
E choramingos
Olhei pra trás e você estava
Lá isenta de tudo
Lá exata sobre tudo.


Gabriel Queiroz