terça-feira, 27 de março de 2012

E Se?


Nem mesmo lembro da sua voz
O tempo veio no tempo errado
A súbita proximidade e a distância
São a causa de todas as hipóteses
Das noites sem sono

Seus pensamentos não saem dos meus
E suas ideias inundam minhas ideias
Intrigado pelos seus óculos
Apaixonado pelas preocupações
Aprisionado pelas possibilidades perdidas
E eu nem mesmo lembro da sua voz...


Gabriel Queiroz

quinta-feira, 22 de março de 2012

Pra Sempre


Ah, o amor eterno...
Todos os pulsos do coração
Os contatos das mãos
As caminhadas nos sábados

Ah, o amor verdadeiro
O envelhecer juntos
O pra todo sempre
Todas aquelas cartas

Ah, o amor juvenil!
Tão verdadeiro
Quanto a eternidade
Tão eterno
Quanto a puberdade.



Gabriel Queiroz

terça-feira, 20 de março de 2012

Brecha


Especialmente notável
Estava o céu daquela rua.

Surpreendentemente, uma estrela brilhava.
As outras se afogavam no alaranjado
Da iluminação pública.

Já ouvira falar delas.
No meu tempo,
Inspiravam algumas pessoas
Chamadas “românticas”,
Dizia-me meu avô.

De alguma forma, aquele brilho,
Particularmente apagado,
Lembrou-me algo
Que se sobressai, talvez.
Talvez tolice.

Quem sabe um tal de amor
Que ele citou também,
Ou algo assim...


Gabriel Queiroz

quinta-feira, 15 de março de 2012

Tempestade


A chuva me faz pensar
A garoa limpa minhas ideias
E isso não é bom

Inspiro ar úmido
E expiro introspecção
Não que eu queira ficar assim
Pensativo ou calado
Eu apenas fico

Isso não é ruim
A garoa, na verdade, embaralha
Ideias se contradizem, flutuam

Chuva, tempestade cerebral
A mente passeia por tudo

As poças na calçada encharcam
Meus sapatos de camurça gastos.


Gabriel Queiroz

quarta-feira, 14 de março de 2012

Deslocamentos


Nós andamos
Andamos, só andamos
Não olhamos, não cheiramos, não sentimos
Apenas vamos de um canto a outro
Para irmos a outro depois

Viemos para a vida
Apenas para irmos para a morte?
Viemos.
Para a vida.
Que tal sentarmos um pouco?


Gabriel Queiroz

sexta-feira, 9 de março de 2012

Lampejo


Ela entrou
Seu cheiro fechou a porta
Seus saltos foram toqueando até o balcão
Um Martini, a quatro bancos de distância
Cabeça apoiada na mão, suspiros e choros

Aquela tristeza contagiou de imediato
O bar adquiriu um tom de sépia
A fumaça de cigarro refletia bem
A opacidade de seus sentimentos fuliginosos

Algum parente morrera,
Alguma desilusão amorosa...
Não sei
E também não importa

O que importa é que um sorriso foi esboçado
Ela tentou conter, inútil
As lágrimas pareciam alimentá-lo
E a risada as alimentava, também

O que importa
É que não importa do que ela se lembrou
A tristeza foi embora
Ela foi embora
O sorriso ficou.


Gabriel Queiroz

segunda-feira, 5 de março de 2012

Reavivados


A primavera nos priva de tristezas,
Por hora

Há flores que não desabrocham
Rancores, dores, há muito guardados
Essas esperam até o mais frio inverno
Sobrevivem da nossa necessidade de calor

Não se precipitem
Outras primaveras verão
Outras primaveras, verão.


Gabriel Queiroz