Oh!, meu caderno amado,
perdoe-me.
Fui seduzido pelo teclado brilhante
do computador, eu confesso...
Mas que tolo fui!
Perdoe-me, perdoe-me!
Amo-te, meu bem, como quem odeia acordar cedo
e dar com o rosto numa janela iluminadíssima cheia de grades,
mas venera uma meia luz
em tuas folhas amareladas desnudas de pautas.
Desejo as curvas de tuas quinas
(como Roberto as da estrada de Santos)
e a firmeza do elástico que me abraça e te cerra!
Entre desenhos malfeitos e versos meio tortos,
vejo que não me esqueceste.
Mas que bobagem a minha!
Como bom caderno que és, tua firme capa preta
cuidará de meus pensamentos como teus, se eu de ti
também cuidar.
Quem precisa de becapes em nuvem quando te eternizas em terra?
Oh!, meu caderno querido,
se te causa algum alento citar-te Carlos,
dance um samba bravo, violento,
sobre o computador que agora apenas te suporta.
Vão-se os bytes, ficam teus riscos!
Pois amo-te como amar-te-ão meus bisnetos:
eis que encontrei o caderno de sonetos de minha bisavó.
Conversamos longamente, tomamos um café
e ele, além de a mim descrevê-la em histórias belíssimas,
encorajou-me a implorar teu perdão...
E aqui escrevo,
rogo
e jazo.